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Mostrando postagens de 2015

Eu Avisei

Olha, a verdade é que escrever é quase igual cagar. Porque quem caga, não caga na hora que quer. E não caga onde quer, também. Quem precisa cagar, precisa cagar e pronto. E é assim que eu me sinto quando eu finalmente escrevo alguma coisa, sabe? Porque é uma necessidade física, e cada vez que eu coloco um ponto final em cada texto, eu sinto um alívio tão grande que deve valer por umas três cagadas ou mais. Ah, e tem aquele incômodo de passar dias e dias sem escrever uma linha sequer, e tem também aquela vez que até sai alguma coisa, mas não dá pra falar que você escreveu um texto novo, de fato. E todas as vezes que você não escreve aquela ideia na hora, e ela acaba indo embora E sabe-se lá quando ela vai voltar Se é que ela vai voltar Por isso que eu sempre ando com um bloco de notas, sabia? É porque uma vez eu vi um careca da tevê falando, e disso eu não vou esquecer tão cedo: "nunca se recusa uma ida ao banheiro" E é isso que eu faço Porque no fundo é tudo a mesma coisa, nã

Acidente

Eu tava sentado na mesa. Assim, só sentado. Caneta em uma mão, cabeça apoiada na outra, olhando pra porta. O marrom da porta não significava nada. Mas eu pensava nisso. Não vinha nenhuma ideia à cabeça. Tocou o telefone. A mão da caneta atendeu, deixou ela cair na mesa. Daquele jeito que pinga uma vez com cada ponta, sabe? O telefone na orelha e a voz na cabeça. Um acidente? Ok. Quando? Uhum. O papai? Uhum. Uhum. Morreu? Entendi. Uhum. Ok. Amanhã? Ah sim. Não encontraram né? Não né? De ninguém? Ok. Uhum. Velório só. Tá. Tá bom. Tchau. Meu pai morreu. Um avião sofreu acidente. Ele tava nele. Eu não sabia. Era com a amante. Isso eu também não sabia. Acho que agora eu tenho que fazer alguma coisa, né? Organizar. É, eu acho que as pessoas fazem isso. Organizam. Alguma coisa. O enterro. Mas não tem corpo. O velório. Ok, só o velório. Tem que avisar todo mundo. Todo mundo não, só algumas pessoas. Eu nem sei quantos anos ele tinha. Alguém vai me perguntar isso né? Vai. Ele era jovem. Jovem de

Divã do Monstro

Tempo demais a só teorizo: Tentar ser profundo num mundo de águas rasas é a maneira que me iludo Quem dera ser terreno até alado Não rastejar pelos abismos cantos sombrios das questões ermos mal iluminados Vez ou outra excepcionais ocasiões lança-se o monstro à superfície Helenas Marias Alices... Com mulheres, monumentos se depara O Querubim notando o alvo exótico dispara. Abate-se sobre Leviatã avessa e excessiva ternura que encarcera-o impedindo seu retorno ao repouso nas fissuras Agonizante a ternura acumulada satura-se metamorfoseando-se em ira " Que sentido há em decompor o Ego lhes expôr o pouco que me resta Se como lança é cravada a dúvida: À todos amam ou apenas me detestam?   "

Título a definir

Garoto chega a noite em casa e passa meio apressado pela sala, onde está a mãe: - Ei, ei, garoto! Pode ir brecando aí, vem cá! Já sentindo o suor frio escorrer pela sua testa, ele foi em direção a mãe. - Deixa eu sentir teu bafo. - Por que, mãe? - Anda logo vai! - O que foi, mãe? - Disse o garoto já abrindo a boca, com o nariz da mãe praticamente na goela. - Que cheiro é esse, moleque?! - Cheiro? Que cheiro? - Você sabe bem do que eu estou falando! Eu sabia que você tava fazendo essas porcarias! - Do que você tá falando, mãe? Eu não tô fazendo nada não! - Tá sim, que eu to sentindo isso aqui. É cheiro de ketchup! - Ketchup, mãe?! Não é não! Eu não comi nada disso! - Ah, não é? Isso aqui é cheiro do que hein? - É... é de maconha! É cheiro de maconha, mãe! Eu tava fumando lá com o pessoal. - Não vem com essa pra cima de mim, menino. Eu sei muito bem o que você e esses seus amigos aí estavam fazendo. Vocês foram no Mc Donald's! - Nossa, mãe, é lógico que não! - Foram sim, aposto que s

Pandemia

Vomito palavras vãs ultraje aos homens porcos minha cólera minha febre terçã que acerta-os em cheio nos ovos causa-lhes repulsa e um comichão na consciência essa mania de sangrar as regras da moral e da decência prova irrefutável do pânico suas frases andam em círculos caem no chão contorcem babam em pleno surto epifânico alegre, despeço-me gargalhadas ecoam no oco de cada cabeça que as palavras vãs marcadas a fogo até o fim permaneçam.

Fotógrafo

Ninguém está vendo, mas ela existe. Ela está bem ali, escondidinha. Na grande cidade, naquela região de lá, no segundo bairro. Naquela rua, no décimo terreno de cima pra baixo, dentro da casa amarela. No quartinho do fundo, tá ali. No sofá, no rosto do homem. Bem debaixo do olho esquerdo. A lágrima. Ninguém dá muita atenção à ela, porque no dia-a-dia ela fica seca, evapora. Deixa só uma risca clarinha pra trás, que marca a bochecha desse quase senhor de cinquanta e tantos anos. Homem que sempre se divertiu. É daqueles que sempre sorri e que, apesar dela, continua sorrindo. Pode não ter o mesmo significado de antes, mas o sorriso é o mesmo. Ele ainda levanta cedo, mas agora é porque precisa. Depois de levantar vai pro trabalho. Não é o trabalho de todo dia, mas é que agora quando chamam ele, ele tem que ir. A câmera, sabe? Não funciona mais do mesmo jeito. Antes ele via, sentia, enquadrava, clicava e dali não saía mais o sentimento. O pão na mesa era efeito colateral. Agora a máquina nã

De súbito, nu

melancólico esse eu e tu esse eu e tu e aquele teu blues nu nublado nos dias de céu azul um expoente de loucura que paira no ar afinal sou eu ou você ventríloco que manipula? Ser o algoz do outro Enquanto a dor aflige tua própria carne Como se não bastasse esse alheio histérico Agora, chica esquece tudo isso e só põe na cabeça Te quiero

Título a definir

Não é fácil Vida de palhaço E carga de jumento Só lamento, Só lamento E é somente isso Que sua mente faz, Mente E mente mais O tanto que é capaz, O tanto que pode É uma ode  Ao ódio Que só Que só quem te conhece conhece.

Intermunicipal

a Creusa na primeira fileira conta pra comadre no telefone em alto e bom som que a Taís ainda gosta do Thiago mas viu o que não devia e fez escândalo na porta da casa dele     (com razão, segundo a Creusa) na sexta fileira o Renato por sms quer saber da Maisa se eles ainda são um casal... ela diz que nao sabe e, nessa hora, os dois já sabem que um já sabe que o outro já sabe que sim          (eles ainda são um casal) logo atrás o Júnior chama a Soninha de meu bebê         (coisa rara) depois de ter sido pego em flagrante esgoelando as tripas no boteco da cidade vizinha         (coisa não muito rara) na penúltima fileira uma moça que, digamos, não tem a beleza como ponto forte e dona de um nome desconhecido            (que eu posso inventar mas não quero) liga a cobrar pr'um tal de Carlinhos sair logo de casa que ela já tá chegando -e tira a kelly do sol antes de sair! tchau!   e afinal o que mais me intriga nesse ônibus inteiro é como

Poesia

Dentro de mim  tem ideias  que o mais louco não pensaria, tem segredos que o cofre mais seguro não guardaria, tem imagens  que a tela mais bonita não mostraria, dentro de mim  tem poemas que nenhuma folha de papel aguentaria, coisas que vão além da tristeza e da alegria. Mas entenda, tudo termina em rima.

Reprise

Mais uma pra virar memória Pra lembrar da grana gasta Do tempo escasso Do meu descaso. Uma vez mais, por falta de esforço E o resultado rasga em busca do coração O ventre inteiro, o torso tira o órgão ainda bombeando Pulsando como a ira abrigada nas entranhas. A revolta outorgada pelos olhos faz-se fácil de notar Por escolha própria mostra pra vítima seu destino Só pra dar de bandeja uma cesta inteira de intenções que pousará talvez num futuro distante Guilhotina na cabeça da serpente. Que se foda a Itália Que se fodam suas flores Vou voltar pra minha Ibéria Sempre preferi o mar profundo À essa tua beleza rasa.

Feirante

Quando o galo cantou eu já estava acordado montando barraca e fazendo pastel Passa gente e mais gente, conversa comigo e vai embora Quarta-feira, quinta-feira, todo dia é dia de feira, mas não tem um dia que eu esqueça que fim de semana de feirante  é sempre de segunda e terça

Han Solo

Sozinho Por uma hora e meia O feixe de luz que cruza a vista, se pulveriza em galáxia. Que gira a um palmo da minha testa Uma estrela, um outro mundo,  várias luas Anseios, saudades, tudo se confunde em espiral que alucina-se por eras

CLXII

des enrole, se des cubra e des transforme ou se des faça... se des ligue des      se mundo de la men ta ção e sar cas mo engraçado.... são tão loucas e precisas as  voltas que o mundo dá

Eutanásia

Último trem para lisergia Poesia a queima roupa Ultima bala do pente Assassina da tua euforia Um cão faminto vaga Vadio, pelos cantos, esquecido Não lhe resta carne ou gordura Mas me resta a última bala, palavra Que como magia ou encanto Alveja a cabeça do cão Sai do outro lado veloz Levando a alma, esquecendo o pó

Ato I: Diálogo do autoconhecimento

Era uma vez um gato francês, quer que eu conte outra vez? Calma. Não. Tá errado isso aqui. É, você perdeu mesmo o jeito, né? Perdi o jeito pra que? Pra escrever, ué! Contar história, fazer poema, música, qualquer coisa. Você perdeu o jeito de vez. É, eu acho que perdi mesmo... Mas eu não sei o que aconteceu. Não sabe? Você mudou, virou outra pessoa, outra coisa.  Como assim? Você não faz mais o que fazia antes. Antes você saia todo ensaboado do banheiro só pra escrever alguma ideia muito boa que tinha vindo na sua cabeça. Antes você andava com caderno e lápis em qualquer lugar e não dava trela pra situação alguma, toda hora era hora de escrever. É verdade... Agora não, agora você tem uma ideia, mas fica com preguiça de escrever. Você deixa pra depois, anota uma frase e tá tudo certo. Parece que perdeu a vontade de escrever. E o que eu faço pra voltar a ser como era antes? Como eu faço pra começar a escrever de novo?  Acho que você já começou.

Vontades

         queria        ser                o       Obama             pra        descer              do       meu          avião        presidencial     trotando       aquele            trote        imperial            que       só                 e      somente              só um cara bem importante pode       executar sem parecer ridículo nada é ridículo dentro de um terno sob medida você pode até tentar         mas não vai passar vergonha vai no máximo parecer que você é um ator dramático ou  então de comédia ou um presidente um maluco um corno ou algum milionário que acabou de perder tudo no jogo é isso que vai parecer... aliás, acho que nem quero mais ser o Obama                   acho que agora eu quero ser um terno sob medida

Ludwig Van Beethoven to his 'Immortal Beloved'

Good morning, on July 7 My thoughts go out to you, my Immortal Beloved I can live only wholly with you or not at all -  Be calm my life, my all. Only by calm consideration of our existence can we achieve our pourpose to live together. Oh continue to love me, never misjudge the most faithful heart of your beloved. Ever thine Ever mine Ever ours.

Pobreza

De que adianta  a mesa farta se farta companhia? De que adianta ter almoço se ao moço sobra a agonia? A mim sobra a pobreza, o desprezo e a covardia Mas ao menos ainda tenho o sorriso  de uma alma amiga.

À primeira vista

Um cara, dez contos no bolso e uma lista. Um carrinho de mercado e uma dúvida: "Levo ou não a revista?" Preferiu decidir depois e voou pelos corredores pegando cada coisinha que conseguia lembrar da lista Virou um à esquerda e trombou com uma moça linda se desculpou recolheu tudo e nunca mais a viu na vida.

Falta de inspiração

Falta de inspiração é foda. Ficar vendo a barrinha de texto piscando na sua frente, só esperando pra se mexer. Só esperando pra escrever algum romance, alguma poesia, uma ficção. Só esperando pra fazer o heroi salvar o dia depois de o vilão tentar acabar com ele. Ou senão, esperando a mocinha se encrencar e umonte de gente correr pra salvar a pele dela. Quando não isso, ainda, a coitada da barra espera algum texto importante, uma crítica, algo político. Mas não. Falta de inspiração é um pé no saco. Conforme-se, barra! Não vai ter texto hoje. Hoje o dia tá parado pra mim e pra você. Ficar aí piscando só vai me fazer sofrer e você ainda mais, então vê se dá um tempo e vai descansar num canto. Porque enquanto você não parar de piscar, eu não vou conseguir pensar em mais nada, então chega vai...  Bendita barra que escreve.

Felicidade que corrói

É a felicidade que corrói a alma, não a sua, a dos outros e ver, invejar não é pouco A felicidade, quando demais, transborda em lágrimas, que pouco a pouco enchem um rio de mágoas E que mágoas são essas? Que de secas formam um deserto e de ternura vendida se faz um belo, belíssimo trajeto até chegar lá embaixo E daí é só pra baixo, quando você vira um trapo e por mais contente que esteja tudo, tudo isso já virou besteira A felicidade corrói e tudo o que há de alegre nessa vida, ela há de destruir.

Conflitos

prefiro que caiam                          mortos todos os meus medos fraquezas  & desesperos prefiro que caiam de pé como uma bailarina russa do balé       bolshoi todos os meus amores      sabores cores     e sonhos eu vou torcendo pra que caiam como uma luva todos esses versos nos meus pensamentos imundos     e às vezes     tristes              e às vezes              burros e enquanto isso eu espero pra ver         se vão                   c                    a                       i                         r na prova final dessa vida       todas  aquelas questões que nunca foram                      resolvidas nem por mim nem por Deus        nem por Jesus        ou  Maomé     Shiva     Buda   Ganesha ou Barnabé                   mas                   isso                 é claro   se eles                  se nós não forem           não formos               a mesma                  coisa                                 

Desconstrução

um resumo de um cara no interior um desejo de ser Midas mas só mais um com dor descontruiu-se fez grandes amigos mas nenhum grande amor o que valia a pena deixou de lado ai percebeu que entendera tudo errado encontrou uma fuga nada demais, uma flor e se foi sem mais dor

Camundongos

Conversa entre dois cientistas, sobre seus camundongos de teste: - Ei, você viu como está obediente meu camundongo de teste? - Eu vi! Impressionante. - Obrigado. Consegui condicioná-lo direitinho, toda vez que ele aperta o botão vermelho, eu lhe dou um queijo. Não falha uma! - Genial! Conversa entre dois camundongos de teste, sobre seus cientistas: - Ei, você viu como está obediente meu cientista? - Eu vi! Impressionante. - Obrigado. Consegui condicioná-lo direitinho, toda vez que eu aperto o botão vermelho, ele me dá um queijo. Não falha uma! - Genial!

História

Você é fogo, viu? Falou da útima vez que sentiu Mas ouviu e ouviu e ouviu Sem ver direito, tava meio embassado No meio de todo aquele cabelo embaraçado Tinha uma mão na cara de um, Um tapa na cara do outro Uma névoa de sorrisos entre os dois Mas como foi que isso tudo começou? Ah, isso não se viu Mas de um dia pro outro o céu se abriu, Porque tava escuro, De todo lado, Só que assim, claro, claro, não ficou, Ficou nublado E que nublado... Não deixava ela de lado Ficou ali, meio assim, Até que um dia disse que sim Bem, mais ou menos, Mas tava mais do que valendo Mas eh, não, sim, Oras, a vida é assim, Tá bom pra você, Tá ruim pra mim Eu também queria o bom, poxa Bom pra você, bom pra mim, Todo mundo bom e ninguém de trouxa, Mas que ideia! Ideia que voltava com cada marca roxa Sabe? Da boca E que boca... Mas de boca não conhecia Bem, só da boca pra fora, Porque o céu lá dentro não via, Só aquele mesmo da piscina E ficava na vontade E na saudade E na amizade...

Além-mar

     Quero ser       como um qualquer comum nenhum até distante num outremer      quero ser      quem eu quiser sem fim sem esconder o meu querer e o teu sequer       em se lembrar       do meu "pois é..."

Último Devaneio de Carnaval

Alforriado de um corpo, dita prisão carnal, vos apresento em verso torto meu devaneio de carnaval. Pelos momentos de euforia aceitamos sem nos queixar hedonismo, canto, folia e a quarta feira do pesar Esquecidos da rotina pelos prazeres, pelas "ínas" pelo som dos atabaques, das cuícas Mas quando voltarmos as linhas façamos da quarta de cinzas Ritual. Para os que não dançaram beberam ou se alegraram, no último carnaval.

Dentista

Dizem que ir ao destista é um dos grandes medos de todas as crianças. E dizem que a maioria dos medos são irracionais. Bem, esse não é um deles.  A ida ao dentista se resume a horas de espera e sofrimento, para, depois, ainda ter que pagar por isso. Toco a campainha do consultório e encaro meu reflexo na porta espelhada, como se ninguém pudesse me ver do lado de dentro, até que a porta se abra. Entro no consultório, aonde, junto de mais oito desconhecidos, aguardo até as cinco horas, pela minha consulta das três e meia, assistindo aos clipes do Abba, na televisão da sala de de espera. A assistente do dentista finalmente me chama e me leva até a sala, aonde me deixa pronto para ser examinado, limpado, higienizado, exterminado por ele. Ela põe todos aqueles aparatos, lenço no pescoço, óculos protetor e até me da um papelzinho, caso precise limpar a boca depois. Acredito que de cada dez casos de TOC extremo, nove são dentistas. A experiência do começo pode até parecer boa, mas é porque o

Dá-se um jeito

José nasceu normal, dotado do dom de poeta. Palavra que é dita, nunca lhe afeta A única que lhe é fatal, a tal da palavra escrita, Agora deixou de existir, pois foram-se neste poema as últimas gotas de tinta. Sem tinta, caneta ou papel restou pra José declamar poemas pro Céu Que, comovido com o recital, chorou toda mágoa de vez em tempestade tropical.

O Culpado

É por Deus ser justo que eu tenho medo de mim mesmo, do meu próprio veneno É por isso mesmo que eu sei que sou ruim, sou assim, como ninguém nunca foi pra mim É por eu sempre pedir, mas ele estar ocupado, quando na verdade  era eu o culpado Por eu sempre pensar duas, três, dez vezes  antes de fazer ou falar e não dar em nada, porque sempre o que eu pensei foi a mesma coisa errada Tenho medo de dizer que eu sofro, que eu sofri, porque sei que vou sofrer mais e eu sei que mereci Mas mais do que tudo, tenho medo de agir pra tentar melhorar, porque vamos e convenhamos, a justiça não é neutra e ninguém nunca vai mudar.

Recessos

Descobri onde estavam os pássaros, suas asas, plumas e os assovios, Num baú do lado de uma caixa sempre lotada de passados Um pote de sorrisos no criado mudo um livro qualquer, uma carteira de couro ideias pra desenhos e músicas guardadas como tesouro. Um poema com o Eu  dentro, uma lupa, uma anedota... Minha desculpa. Me afasto do veneno, da cachaça e quando ficar difícil, me abraça. Pra cada choro, cada lamento um problema a mais, um pesar. Me consolo, "pelo menos eu tento..." Não quero mais nada. Pra estragar?

Sofrer - Como um leigo

Não entendo bem essa coisa de escrever, falar, se expor... Espero que você não fique brava comigo, porque vai precisar de um pouco de paciência pra ler isso aqui. Sei lá, eu não sei bem como começar. Tipo, vou só escrever, sabe? Acho que tem toda aquela coisa de que você lê um livro e tal e o cara que escreveu é um 'escritor', daí isso dá um puta crédito pra ele. Parece uma profissão daquelas que você precisa fazer faculdade pra ser, tipo, faculdade de escritor. Mas na verdade todo mundo pode ser escritor né, é só escrever. Só que esse negócio de o cara ser um escritor e vender livros e etc dá uma insegurança e até um medo nas pessoas de escrever.  Mas eu to escrevendo mesmo é pra falar que tá difícil. Não sei fazer aquelas comparações que os escritores fazem de fogo que não dói e lágrima que salga mar, mas eu sofro como qualquer um também. E é por isso que eu to escrevendo. Pronto. Agora eu tenho um assunto de base. Sofrer. Podia ser o título também. Enfim, a questão é que viv

Belas Artes

ouvindo Caetano e lendo Carvalho viajo, passeio; me expurgo, me trago penso, repenso; estrago, remendo;      me apago,      me invento ... lendo Carvalho e ouvindo Caetano um gênio da Bahia                 e             um brother  Paulistano achei no fim,      no só, no fundo (do livro) um beijo de batom que minha nêga     mandou que é pra me falar sem pressa que me gosta e que me ama que é pra mandar um smack surpresa que me prende e que me chama         é         quase         um anagrama ... enquanto eu viajava com Caetano e com Carvalho minha nêga enviou um beijo       (bomba) de oi    to mil megatons

Rastejante

Nasceu e cresceu nas grutas entre máquinas, rochas e putas gostou do breu, do úmido nunca disse a ninguém, mas foi tímido O último raio de luz que teve a petulância de olhar lhe fez cego,triste, e cuspindo pus Os cães de fora, não o deixaram sair Sucumbiu ali. Jazia seu corpo, frágil, sujo, coberto de fuligem Olhar pro horizonte sempre lhe deu vertigem

Presente

procrastina                  dor e com sorrisos amor e com           promissos deixa    pra        depois pra ver  se    passa deixa     pra         amanhã pra ver se     amassa joga fora essa chatice e vê se o tempo rabugento faz das tripas          Berenice

Licensa para matar

Sou assassino de mentalidades normalidades banalidades e de todas as verdades Faço massacre de ideologias meritocracias hierarquias e de todas as franquias Como se não bastasse, sou procurado por crimes paixões e elogios Mas nunca vou ser preso tenho imunidade lógica e licensa poética

Poesia da redondeza

Coluna ereta poeta  na escrita marmita do lado sobrado não, a laje mensagem que passa e amassa o papel fala do fel, do bordel é musica falada, cantada sem dó e só.