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Mostrando postagens de maio, 2015

Fotógrafo

Ninguém está vendo, mas ela existe. Ela está bem ali, escondidinha. Na grande cidade, naquela região de lá, no segundo bairro. Naquela rua, no décimo terreno de cima pra baixo, dentro da casa amarela. No quartinho do fundo, tá ali. No sofá, no rosto do homem. Bem debaixo do olho esquerdo. A lágrima. Ninguém dá muita atenção à ela, porque no dia-a-dia ela fica seca, evapora. Deixa só uma risca clarinha pra trás, que marca a bochecha desse quase senhor de cinquanta e tantos anos. Homem que sempre se divertiu. É daqueles que sempre sorri e que, apesar dela, continua sorrindo. Pode não ter o mesmo significado de antes, mas o sorriso é o mesmo. Ele ainda levanta cedo, mas agora é porque precisa. Depois de levantar vai pro trabalho. Não é o trabalho de todo dia, mas é que agora quando chamam ele, ele tem que ir. A câmera, sabe? Não funciona mais do mesmo jeito. Antes ele via, sentia, enquadrava, clicava e dali não saía mais o sentimento. O pão na mesa era efeito colateral. Agora a máquina nã

De súbito, nu

melancólico esse eu e tu esse eu e tu e aquele teu blues nu nublado nos dias de céu azul um expoente de loucura que paira no ar afinal sou eu ou você ventríloco que manipula? Ser o algoz do outro Enquanto a dor aflige tua própria carne Como se não bastasse esse alheio histérico Agora, chica esquece tudo isso e só põe na cabeça Te quiero

Título a definir

Não é fácil Vida de palhaço E carga de jumento Só lamento, Só lamento E é somente isso Que sua mente faz, Mente E mente mais O tanto que é capaz, O tanto que pode É uma ode  Ao ódio Que só Que só quem te conhece conhece.

Intermunicipal

a Creusa na primeira fileira conta pra comadre no telefone em alto e bom som que a Taís ainda gosta do Thiago mas viu o que não devia e fez escândalo na porta da casa dele     (com razão, segundo a Creusa) na sexta fileira o Renato por sms quer saber da Maisa se eles ainda são um casal... ela diz que nao sabe e, nessa hora, os dois já sabem que um já sabe que o outro já sabe que sim          (eles ainda são um casal) logo atrás o Júnior chama a Soninha de meu bebê         (coisa rara) depois de ter sido pego em flagrante esgoelando as tripas no boteco da cidade vizinha         (coisa não muito rara) na penúltima fileira uma moça que, digamos, não tem a beleza como ponto forte e dona de um nome desconhecido            (que eu posso inventar mas não quero) liga a cobrar pr'um tal de Carlinhos sair logo de casa que ela já tá chegando -e tira a kelly do sol antes de sair! tchau!   e afinal o que mais me intriga nesse ônibus inteiro é como